18 outubro 2006

Células-tronco e o dilema ético

Há pouco mais de um mês, pesquisadores da Advanced Cell Technology anunciaram na revista Science terem desenvolvido técnica que seria capaz de criar colônias de células-tronco embrionárias sem que fosse necessário destruir o embrião. A destruição do embrião constitui a maior objeção ética apresentada ao desenvolvimento das pesquisas envolvendo células-tronco e suas aplicações práticas. Embora a referida técnica ainda não tenha sido confirmada por outros pesquisadores, a comprovação de sua eficácia poderá neutralizar o impasse ético e contribuir para o avanço da medicina regenerativa.
Para tanto, a própria Advanced Cell Technology anunciou, em 12 de setembro, ter celebrado um acordo com o WiCell Research Institute para que colônias de células-tronco — desenvolvidas através da nova técnica — sejam distribuídas a pesquisadores norte-americanos. A intenção é comprovar a utilidade destas células-tronco e convencer o Congresso estadunidense a rever a vedação de financiamento federal a pesquisas que as envolvam.
Em que pesem os recentes avanços das pesquisas com suas equivalentes adultas, o uso de células-tronco embrionárias parece ser o que admite escala de produção suficiente à viabilidade econômica de sua eventual utilização clínica no futuro.
O interesse econômico afeto ao tema é inquestionável: a possibilidade de patenteamento de técnicas de conversão de células-tronco para diferentes tecidos do corpo humano ou de sua utilização para a cura de doenças como Alzheimer, Parkinson, diabetes ou ainda lesões físicas irreversíveis torna clara a imensurabilidade dos lucros que daí possam advir.
A União Européia tem investido milhões na EuroStemCell, um consórcio comunitário voltado para a pesquisa sobre células-tronco com sede na Escócia e centros de desenvolvimento em Inglaterra, Japão, Austrália e Estados Unidos. Apesar da resistência de alguns países-membros, o financiamento público dessas pesquisas foi aprovado para o período de 2007 a 2013 e estará disponível para países onde tal prática é permitida. Nos Estados Unidos, não obstante o presidente Bush ter vetado o financiamento federal de pesquisas com células-tronco, a Califórnia, através da proposição nº 71, reservou US$ 300 milhões anuais, pelos próximos dez anos, para tais estudos.
Consultores da Bain & Company estimam que o mercado de terapias baseadas em células-tronco deverá girar em torno de US$ 100 milhões em 2010, podendo alcançar US$ 2 bilhões em 2015. O desenvolvimento de terapias contra diabetes e os males de Alzheimer e Parkinson tem sido uma demanda constante da indústria farmacêutica, podendo resultar em ampliação de mercado e vultuoso incremento nos lucros do setor. Com efeito, a geração de tecidos através de células-tronco tem tido resultados promissores. Pesquisa cardiológica realizada pelo hospital universitário Charité, de Berlim, demonstrou ser possível criar válvulas cardíacas sob medida com a utilização de células-tronco.
Investimentos em engenharia genética voltados para pesquisas sobre tecidos do coração só tendem a aumentar, pois os problemas decorrentes de insuficiência cardíaca consistem na principal causa de hospitalização e morte entre pacientes com mais de 65 anos.
No Brasil, as pesquisas com células-tronco, permitidas sob condições determinadas pela Lei Federal nº 11.105/2005, têm sido realizadas destacadamente pelos Centros de Pesquisa, Inovação e Difusão (Cepids) da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, que abrangem o Centro de Terapia Celular de Ribeirão Preto e o Centro de Estudos do Genoma Humano, em São Paulo. Empresas privadas do setor podem obter recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) do Ministério da Ciência e Tecnologia. Investimentos privados, contudo, ainda se mostram insuficientes, desproporcionais ao interesse econômico representado pelo promissor mercado de terapias que se utilizam de células-tronco
Fonte: DCI

1 Comments:

At 1:53 PM, Blogger Unknown said...

Muito legal
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